MOACIR SCLIAR - Zero Hora - 15/10/2006 -
médico, escritor e professor, morreu em 2011 aos 73 anos.
O PODER DO PROFESSOR.
É muito significativo que o Dia do Professor ocorra em outubro.
Este é o mês da criança, da descoberta da América, da Revolução Russa, da ONU, do Dia Internacional do Combate à Violência Contra a Mulher, do Médico, do Livro, do centenário do voo de Santos Dumont no 14-Bis.
Outubro também é um mês de eleições. Eleição é a vitória da democracia, mas como sabemos, os resultados às vezes desapontam. A democracia traduz-se, como a escola, em aprendizado. Mas a política nem sempre é isso. Porque política é poder, e poder, como dizia Lord Acton, corrompe.
O ensino e o poder têm uma coisa em comum: ambos lidam com a informação, com o conhecimento.
O político sabe coisas, está informado. O professor também.
Mas a atitude de ambos é diferente.
O político detém a informação. E é pelo fato de estar detida, de não circular, de ficar em segredo, que a informação confere poder.
O professor não detém a informação, o conhecimento.
O professor transmite a informação, o conhecimento. Este é o objetivo de sua profissão. É um objetivo generoso. Mas não proporciona poder.
Agora: será que os professores querem poder? No passado talvez isso fosse verdade. Não podemos esquecer que a escola já foi um lugar repressor, usando até o castigo físico: a palmatória, a coisa de ficar com os joelhos sobre grãos de milho.
O poder do professor não nasce da repressão.
Também não nasce dos conchavos e das manobras.
O poder do professor nasce da mais pura expressão da democracia que podemos conceber, aquela democracia que busca iguais oportunidades para todos através da educação.
Que não é só transmitir informação ou conhecimento. É muito mais.
É o estabelecimento de uma relação emocional que persistirá pela vida.
É por isso que todos lembramos de nossos professores.
Que esse mérito não é por todos reconhecido, basta ver pelos salários que são pagos aos docentes.(...)
Guerra nas estrelas? Não, a guerra é aqui mesmo, a guerra contra o desconhecimento, contra a insensibilidade.
E é uma guerra que só pode ser ganha com os professores na linha de frente.