Convívio entre pais e filhos

17 de abril de 2013      KATIA WAGNER RADKE*
Temos nos questionado, seguidamente, acerca do que estaria acontecendo com os vínculos familiares na contemporaneidade. Se, até meados do século passado, as estruturas familiares pareciam se basear na hierarquização e na verticalidade, cujo princípio básico era a autoridade parental (talvez autoritarismo, despotismo!), atualmente temos visto que a horizontalização e o "borramento dos papéis familiares" têm predominado.
O excesso de tolerância e de permissividade por parte dos pais na contrapartida de uma importante intolerância à frustração dos filhos tem sido um cenário comum na atualidade. Talvez esta formação favoreça a criação de "um novo despotismo". Agora, dos filhos! Não estaria, neste contexto, havendo uma inversão de papéis entre pais e filhos? Não, obviamente, no sentido do despotismo, mas da necessidade que um filho tem de ter nos pais uma referência, um modelo que, no mínimo, guarde as diferenças inerentes à passagem do tempo!
Estaríamos frente a um novo conflito de gerações? Não mais, como no passado, pelo rígido distanciamento entre gerações, mas, agora, por uma dificuldade de discriminar as gerações? Penso que sim...
Os filhos das famílias de meados do século passado são os pais de hoje. Outrora, a possibilidade de questionarem seus pais e discordarem deles não era bem-vinda. Talvez possamos pensar o quanto esse silêncio possa ter aprisionado a voz da individualidade e da autonomia dessas pessoas.
Se sabemos que, muitas vezes, conflitos não resolvidos por um pai ou por uma mãe podem eclodir em gerações seguintes, não poderíamos pensar que os filhos de hoje gritam e reivindicam um espaço que não foi permitido a seus pais no passado? É possível que possa estar aí a excessiva complacência dos adultos à tirania dos filhos, pois "dão" aos filhos aquilo que lhes foi "negado".
Porém, se pensarmos que os excessos podem ser tão nocivos quanto as faltas, poderíamos tentar entender que o excesso de autoridade/autoritarismo do passado possa ter se transformado em uma falta de autoridade e um excesso de permissividade nos dias atuais.
Acredito que é preciso pensar que nossos filhos não podem ser cópias melhoradas de nós mesmos, precisam, sim, ser edições originais e autênticas de si mesmos! Estando intrínseco aí que o borramento de diferenças promove, muito mais, a confusão do que a clareza e o livre pensar!
  *Psicanalista, membro da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre
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